Racismo na infância

O racismo ainda é uma realidade estrutural no Brasil e seus efeitos começam a se manifestar já na infância. Na educação infantil, esses impactos podem ser sutis, mas profundamente marcantes, afetando o desenvolvimento da identidade, da autoestima e das relações sociais das crianças.

Neste artigo, partimos de referências fundamentais sobre racismo e infância para refletir sobre o tema e apresentar práticas que ajudam a construir ambientes mais justos, respeitosos e antirracistas nas escolas.

O impacto do racismo na infância

Segundo uma pesquisa do Centro de Psicologia de Harvard, vivenciar cotidianamente o racismo estrutural, seja em seu formato mais escancarado ou de uma maneira sutil, e também o acesso às piores condições de serviços públicos, compromete — e muito — aprendizado, comportamento, saúde física e mental  na infância.

As experiências de discriminação racial surgem  muito  cedo na vida de crianças negras, afetando consideravelmente o desenvolvimento emocional e a construção da autoestima.  “Naturalmente” tais experiências são silenciadas nos ambientes familiares e escolares, permitindo a  perpetuação  de um ciclo de invisibilidade, onde estas crianças não encontram espaços de acolhimento para que possam relatar as suas dores e isso legitima a necessidade dos adultos se tornarem aliados ativos na construção de momentos recorrentes de diálogo seguro.

A infância e a construção de uma sociedade antirracista

No livro O perigo de uma História Única, Chimamanda Ngozi Adichie, reforça que as narrativas únicas possuem o poder de moldar nossas percepções e estereótipos, o que acaba por reduzir a diversidade das experiências humanas a uma visão simplista e opressiva. Esta reflexão comprova a necessidade de pensarmos a infância como um período crucial para a formação da identidade e da autoimagem.

Garantir a presença da representatividade nas histórias que são ofertadas para as crianças — seja nos livros, na mídia ou na escola — é por assim dizer, um compromisso ético de ampliação dos horizontes das crianças e de promoção de uma sociedade mais inclusiva e justa.

Além de combater o racismo estrutural, se ver representado desde cedo, possibilitará que as crianças negras, ao se reconhecerem como protagonistas e acessarem narrativas positivas de pessoas negras,  consigam romper com a ideia de que o branco é o padrão universal. Crianças brancas em contato com tal pluralidade, podem aprender a enxergar a diversidade como valor e a desnaturalizar o racismo.

O contato afetivo e o cuidado em relação à diversidade racial são estratégias fundamentais para bebês e crianças pequenas. A forma como os adultos lidam com questões de cor, cabelo e traços nas interações cotidianas são a base na construção de  grandes percepções sobre identidade. Por isso é extremamente importante que, nas escolas por exemplo, o cabelo de crianças negras sejam elogiados, brincadeiras e tudo o que remete a cultura africana e afro-brasileiras , sejam valorizadas

Dicas  para adultos no  combate ao racismo na infância

  1. Ofereça materiais representativos: procure ofertar para as crianças livros, desenhos animados e brinquedos que apresentem personagens negros como protagonistas, reforçando a pluralidade cultural e rompendo com estereótipos;
  2. Converse sobre diversidade: para que as crianças aprendam que todos, independente de cor, origem ou cultura, tem direito ao respeito, considere conversar de maneira recorrente com elas, apresentando exemplos concretos do cotidiano;
  3. Promova constantemente o diálogo aberto e seguro: seja como familiar ou como educador, é importante que adultos em contato com crianças negras, criem espaços de conversa para que elas possam expressar seus sentimentos e questionamentos sobre o mundo ao seu redor. Uma maneira certeira de abrir o caminho para reflexões importantes de certo modo, complexas, é fazer perguntas simples que direcionam para conversas sobre este tema;
  4. Esteja atento às atitudes e a sua linguagem: constantemente, avalie se as expressões que usa ou se determinados comportamentos corriqueiros, reproduzem ou não preconceitos enraizados;
  5. Estude o tema com frequência: é fundamental que tanto  familiares quanto educadores  busquem livros e formações sobre o racismo e suas implicações, para se aprofundar e se engajar  na transformação da sociedade.

Para saber mais:

– EURICO, Márcia Campos. Racismo na infância. São Paulo: Cortez Editora, 2020. 

– GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra. 4 efeitos do racismo no cérebro e no corpo de crianças, segundo Harvard. Disponível em: https://www.geledes.org.br/4-efeitos-do-racismo-no-cerebro-e-no-corpo-de-criancas-segundo-harvard/.

– GOMES, Nilma Lino; ARAÚJO, Marlene de (org.). Infâncias negras: vivências e lutas por uma vida mais justa. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2018.

– SANTOS, Jussara. Democratização do colo: educação antirracista para e com bebês e crianças pequenas. São Paulo: Papirus Editora, 2025. 

– RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.